repente da memória e descendência revirada*

BRIGA-ELUCIDAÇÃO

Por aqui, por vezes, não nos deixam ter história.

A gente é que briga pra ter.

Não tem memória, nem lembrança, nada?

Nem de adulto, nem velho, nem criança.

Não! Memorizo sim: elucidação!

HISTÓRIA-CONSTRUÇÃO

Quero falar de quem veio antes de mim.

Resgate revirado sim:

Elas e eles que me antecedem,

E tudo, a história é construção e continua.

Quem? Nem sempre sei, assado e assim.

GALERIA-AÇÃO

Invento do causo lembrado.

Memoriado na fala, desenho, foto, grafia.

Álbum guardado. E não no chip 'galeria'.

Sai fora, no vento, com a sua racionalização!

Fica o quê? O sentimento singelo e a ação.

NOME-CERTIDÃO

Tem foto na minha identidade.

Tem nome e sobrenome na certidão.

Quem é você? Seu pai?

Sua mãe? Seus avôs, avós e tudo mais que há?

Humm? Quão?

POESIA-REVISÃO

Reviravolta re-volta na cabeça,

Vira palavra-viva, contada na mente que suspira.

Memória na tela, poesia-revisão.

Estória criada de prosa que vem

E verso que ia, foi? Vão?

LENHA-FOGÃO

Quem: Sapateiro? Tião. Costureira? Renilda

Arrumadeira? Tereza. Pedreiro? Dico

Barbeiro? Juca do Lau. Enfermeira? Eva

Lavadeira? Minha bisavó Ana de Jesus?

Doce de cidra, lenha no fogão.

TEMPO-PAPEL

Tantas, tantos.

Caberia mais.

Não no papel.

Ninguém pesquisou.

O tempo apagou?

REDES-MEMÓRIA

Gente daqui e acolá, de perto e de longe.

Negros e brancos, que fizeram isso e aquilo na vida.

Que a memória contou.

E nem a oratória registrou.

Bora bolar redes de identificação?

PARANAUÊ-DECODIFICAÇÃO

Tem que falar pra nunca deixar esquecer:

Pro pessoal mais novo saber, porque não?

Tem que filmar, registrar, escrever.

Pra rapa de toda idade perceber, decodificação?

Tem que memoriar, quando se encontrar nos paranauê, gerar compatibilização?

MUNDO-CÃO

Quando a vida fraquejar e desinbestar de existir,

Sem eira, nem beira, nem porquê... Dizer: 'sai mundo-cão',

O bom de ser um em muitos e nenhum em si,

Vai sucumbir e quedar-se no ar,

Espalhar ruídos de emoção?

RAIZ-CORAÇÃO

É nessa hora que a raiz te segura

E finca a memória no chão.

Porque o leve da vida não é no hoje que se vê não.

É na alegria de resignificar momentos vividos...

Presente-passado num só coração!

*essa moda, poesia, repente, cantoria é dedicada a Juca do Lau, Dona Eva, Sô Dico e Dona Tereza, meus avós, que já viajaram. 

Cleyton Borges (Crônicas no Rascunho)
Enviado por Cleyton Borges (Crônicas no Rascunho) em 20/10/2019
Código do texto: T6774342
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