Poetar

Não fosse a ansiedade pungente

e minha alma calaria!

Mudo espírito

contemplativo, apenas...

Não fossem os veios abertos

e as angustias jorrantes

meu cérebro – porão desabitado –

jazeria fechado

silencioso e úmido.

Não fosse o carpir infatigável

seleção de joios

no trigal da existência

e minha pena repousaria

no umbral das penas.

Mas a dor coabita e copula

em minha mente

gerando as tais flores de revolta

e poetar é preciso.

Não fosse o medo ancestral

da fera, da solidão, da morte

e a implícita ameaça da danação eterna

e bastaria o caderno de folhas virgens...

calava-me!

Inerte, posição fetal

larva, coliforme, unicelular

mas viver é imperativo!

https://polenepedras.blogspot.com/2019/10/poemas-publicados-0242019.html