Poetar
Não fosse a ansiedade pungente
e minha alma calaria!
Mudo espírito
contemplativo, apenas...
Não fossem os veios abertos
e as angustias jorrantes
meu cérebro – porão desabitado –
jazeria fechado
silencioso e úmido.
Não fosse o carpir infatigável
seleção de joios
no trigal da existência
e minha pena repousaria
no umbral das penas.
Mas a dor coabita e copula
em minha mente
gerando as tais flores de revolta
e poetar é preciso.
Não fosse o medo ancestral
da fera, da solidão, da morte
e a implícita ameaça da danação eterna
e bastaria o caderno de folhas virgens...
calava-me!
Inerte, posição fetal
larva, coliforme, unicelular
mas viver é imperativo!
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