Há Fogo

Se sou, não quero ser

Se fui, há algo a se fazer

Entre as certezas incertas

Entre as rotas encobertas.

Há luz no cômodo vazio

Há fogo que eu não crio

Vestes velhas na gaveta

Ideia confusa, obsoleta.

Manhã clara como a noite

Chicote livre em seu açoite

Cicatriz só a mim visível

Alvorada florida, inacessível.

Vias complexas, vermelhas

Caos em minhas centelhas

Viagem eterna sem destino

Delírios, ruínas, desatino.

Olhos que não dizem nada

Cruel existência na sacada

Dor incompreensível na alma

Tarde fria, inconstante e calma.

Sem sentido, os pés ao chão

Em repouso, raciocínio vão

O sentir peculiar que inexiste

Tortura que afronta, e persiste.