Lampejo de Vida
Nada na vida vem por acaso.
Cada folha que caí, cada fio de cabelo que se despenca da nossa cabeça
Até os grandes furacões, as grandes tormentas e tempestades tem seus propósitos.
Cada dia que se vai, cada parte de nós que fica para trás,
São momentos, pedacinhos de nós que vão deixando de existir no hoje,
Virando, aos poucos, história, nossa história, história da gente.
Assim, vagarosamente, ou até de repente, vamos deixando de existir,
Primeiro nossa infância com nossa pele de bebê,
Seguida de nossa adolescência, com toda nossa rebeldia.
A vida vai nos dobrando na juventude até nos tornarmos adultos,
E dobrados, vamos vendo nossa juventude, nosso vigor, indo-se pelo caminho
Ligeira como o coelho, ou mesmo lenta como a preguiça,
Dependendo de nossas escolhas ou de muita infelicidade,
Pois nada é garantido nessa vida.
Se formos agraciados pelos céus, chegamos a nos ver enrugados no espelho,
Coisa que, com nossa muita tolice, abominamos.
É verdade que muitos se vão ainda crianças, outros nem chegam a nascer,
Trágico muitos morrerem na adolescência ou ainda no início da juventude,
É dor que dilacera nossos corações,
Tenho visto muito disto ultimamente,
Tem me feito chorar e pensar na brevidade da vida,
No sopro leve e suave é que ela é.
O fator é que a morte, o fim, o último ponto do nosso texto, o ponto final
Este nosso maldito algoz, acaba nos levando mais cedo ou mais tarde,
Querendo nós ou não.
Isto é um fato por se consumar, sempre à espreita
Atrás de uma curva perigosa, de um carro em alta velocidade,
De uma refeição gordurosa, de uma vida sedentária,
De uma vida aventureira, ou dentro de um quarto trancado.
Nosso ponto final não precisa de desculpas para existir,
Mas as usa muito bem a fim de cumprir seu papel.
O fato é que não passamos de um breve acontecimento, um breve momento,
Apenas um lampejo,
Desperdiçado com bobagens e bagagens inúteis.
Marta Almeida: 22/05/2019