A brevidade das coisas

Sonhei que passar a vida à beira mar era a melhor coisa mais do mundo.

Fui viver na praia.

Com o tempo, a vida ficou chata, perdeu seu encanto.

Mudei da praia, vendi a casa e nunca mais voltei lá.

Sonhava, a vida toda, em ter um diploma.

Fui à faculdade paguei caro, me esforcei muito,

Me formei.

Agora me pergunto o que fazer com o canudo,

Com tanta informação... nem emprego arrumo.

Queria tanto um namorado amoroso, carinhoso, cuidadoso.

Arrumei um assim.

Depois de um tempo tudo isso nele era, para mim, muito chato.

Achava-o pegajoso e cansativo... larguei.

Queria muito ter um lar, um esposo, uma família.

Me casei.

Que coisa trabalhosa, , cansativa, desgastante e escravizadora.

Me via, constantemente, invejando os solteiros.

Larguei tudo e fui viver sozinha.

Queria tanto ter filhos, iguaizinhos a mim.

Os tive e chorei,

Primeiro, de alegria,

Com o tempo, de profunda tristeza.

Amor de mãe, sublime, superior a “tudo"...

Amor de pai, forte, seguro, eterno...

Blablabla... blablabla...

Tudo bem! Tudo isso é verdade,

Mas é também bastante escravizante, destrutivo e aborrecedor.

Todos ficam, ou a maioria ao menos, fica mentindo e se enganando

Que tudo isso é a melhor coisa do mundo,

E se queixando aos montes do trabalho que da ter filhos.

E ainda acrescento: se eu soubesse que eu era

Tão terrivelmente insuportável, teimosa e briguenta,

Jamais quereria outro ser,

No Universo inteiro,

Igual a mim.

Nossos desejos são nossas maiores armadilhas.

Marta Almeida: 08/04/2019