O problema econômico da felicidade.
O comportamento moderno ante suas expectativas de felicidade, suas reações aos momentos de frustração e as várias reclamações que por vezes levam muitos a quadros de depressão decorre em grande parte da ideia econômica de consumo e aquisição de bens duráveis. A felicidade em qualquer nível não se adquire comprando. Isso assemelha-se mais a um consórcio e aperfeiçoa-se a uma coleção.
A felicidade não é uma compra porque nessa, há a quisição e usufruto do bem imediatamente à posse e sempre que há condições, tende-se a atualizar o bem, seja por mudanças em suas características através de uma reforma que lhe dê ares de “recém-adquirida” ou ainda por uma troca efetiva. Ora, a felicidade não carece dessa renovação por se tratar não de um bem durável, mas de um bem de longo prazo (o que será explicado mais à frente).
Suas semelhanças ao consórcio residem na forma como é adquirida. Alguns só a conquistam após pagar todas as parcelas. Esses trabalham arduamente para merecê-la e por vezes nem chegam a usufruir por todo esgotamento no processo. Uns mais apressados por adquiri-la fazem lances, lançando mão de reservas acumuladas pela experiência de vida, ou mesmo por empréstimos em forma de conselhos amigos. Mas há outros que a antecipam por sorteio. Esses são os sortudos. Mas o fato é que, como na compra, uma vez de posse do bem acaba-se por depreciá-lo de alguma forma, desejando sua troca, quando possível.
A coleção se parece mais com a conquista da felicidade porque nessa modalidade, o consumidor ou comprador percebe de forma nítida que precisará adquiri-la em partes contra a qual fará pagamentos proporcionais, ou terá a chance de encontrá-las ao longo de sua vida através de sua experiência na busca ou recebendo-as de amigos nos momentos oportunos. Há ainda a possibilidade de ter sorte e encontrá-las em qualquer momento de distração, ou sem pretensão. Ainda se assemelha mais porque sendo algo particionado, ele percebe que a coleção está em cada peça, formando um todo que mesmo com suas diferenças, vão se encaixando e formando um bem único que só se saberá ao final da coleção. Essa ideia o fará desejar completá-la, não restaurá-la e muito menos trocá-la. Jamais desfazer-se do seu bem.
Por fim, não se pode dizer que conquistou a felicidade ou que isso não aconteceu, enquanto houver o desejo de viver, o desejo de ser feliz, conquistando em cada momento, em cada peça, quer seja pagando com os próprios recursos ou reservas, tomando emprestado os conselhos, os abraços e momentos com amigos e familiares, ou ainda contando com a sorte em cada momento despretensioso. Ser feliz é, antes de tudo, um investimento a longo prazo, pois não se adquire imediatamente e há que se injetar parcelas de si durante toda a aquisição que pode levar toda uma vida.
Muita paz!