O DIREITO À LITERATURA: um bem incompressível na visão de Antônio Cândido

(Com base no pensamento de Antônio Cândido)

Para Sven Peterke, Ronaldo Alencar e Ana Carolina Monteiro Lins de Albuquerque e Souto

Pensar Direitos Humanos

Tem decerto um pressuposto

O que é indispensável

Para nós, fique isto posto,

Para o próximo é também

Não se defraude ninguém

Seja o direito proposto

Pois a tendência mais funda

Achar que o nosso direito

Prevalece sobre o próximo

E que o outro sujeito

Não teria a primazia

Gozar da mesma alegria

Nem urgência no seu pleito

Vitimadas as pessoas

De certa obnubilação

Dizem: “o outro tem direito

Casa, comida, instrução...”

Mas de Beethoven, meu bem

Os quartetos vão além

Dostoievski é ilusão

Porém o Pe. Lebret

Bens incompressíveis chama

E assim Antônio Cândido

Por esses direitos clama

Que não podem ser negados

Escondidos, solapados,

Sem provocar grande drama

O certo é que cada época

E também cada cultura

Estabelecem critérios

(Dentro a literatura)

De incompressibilidade

Divisão sociedade

Dá-se ou nega-se à criatura

E lembra que a classe média

Em certo tempo dizia

Que os empregados não tinham

Dentro da economia

Nem folga, nem sobremesa

O costume da dureza

Ora, esses bens inibia

Portanto é preciso ter

Critérios para abordar

Esses bens incompressíveis

Rever e considerar

Que pobres e desvalidos

Devem ter atribuídos

Esses bens para gozar

Tratamento igualitário

(O que não é caridade)

Pois os direitos humanos

Lastro na legalidade

Levam em consideração

Bens incompressíveis são

Pra toda sociedade

Não só os que asseguram

A física sobrevivência

Mas também os que garantem

Integridade, essência,

Liberdade, arte, instrução,

Literatura, opinião,

E à opressão resistência...

Diga-se de forma ampla

Quanto à literatura

Ficção, drama, poesia,

Todos os tipos – cultura

Folclore, lenda e chiste

Ao mais complexo que existe

Em civilizada altura

Porque a literatura

Como é manifestação

Claramente universal

Dos homens – que sensação!

Não há povo que não viva

A literatura ativa

Com alguma fabulação

Assim como todos sonham

Todas as noites, ninguém

Passa as vinte e quatro horas

Sem se entregar “refém”

Universo fabulado

Ao maravilhoso estado

Desse incompressível bem

E durante a vigília

A ficcional criação

Ou poética – a mola

Da literatura – ação

Presente em nós – tenho dito

Analfabeto ou erudito

HQ, causo, canção

Mas a fruição da arte e

Literatura estaria

Segundo Antônio Cândido

Só nesta categoria

Na justa organização

Da sociedade, então

Em profunda harmonia

E citando Otto Rank

Sobre a literatura

Diz que é o sonho acordado,

(Numa bonita figura)

Pois das civilizações

Provocando sensações

De equilíbrio e brandura

É fator indispensável

Da nossa humanização

Confirma a humanidade

Porque a sua ação

Atua no inconsciente

E no subconsciente

Trabalha a educação

Confirma a literatura

Nega, propõe, denuncia,

Apoia e também combate

É de paz e de arrelia

Vivendo-se a dialética

Afirma a nossa poética

Mais equilíbrio haveria

Porém nas mãos do leitor

O livro poderá ser

Fator de perturbação

E é por isso que o poder

Em face dele condena

Quando o livro é uma arena

E quer logo proscrever

Porque a literatura

Ela é uma instrução

Forma de conhecimento

E forma de expressão

Incorporação difusa

A construção que se usa

Pra organizar a visão

As produções literárias

Todos os tipos e níveis

As nossas necessidades

Satisfazem – oh, sensíveis

E da incorporação

Enriquece a percepção

Por isso impreteríveis