[Morto]

Morto

Sem ter aberto os olhos.

Sem ter sentido o gosto

Da vida na boca.

Morto

Sem ter o nome lembrado.

Sem imaginar o que é afeto.

Apenas a violência dos gestos,

O desespero da sobrevivência

Em meio ao luto diário.

De uma miséria penetrada na carne,

Que exala dor e odor do caos disfarçado

Que carinhosamente chamamos de tempero.

Morto

Das ordens que nunca cessam.

Refém do silêncio,

Que assombra a noite.

Dos sonhos que viram pesadelos

Por desejos nunca satisfeitos.

Morto

E isso basta.