O SENTIDO DAS " COISAS"

Que sentido há em procurar os sentidos das coisas

As coisas competem em si em não ter sentido algum

Que sentido poderia ter uma cadeira ao canto?

Ou o sentido do canto vazio da cadeira?

No fundo de todas as coisas, cousa alguma faz sentido

A solidão que carcome a alma em silêncio assustador

O medo de deixar-se vê a totalidade do eu

Cada reentrância, cada lacuna, cada senda

O verso que o poeta não escreve

A palavra que se esconde por medo de que a sensurem

Há sentido no sentir do poeta?

Podem escrever sobre o verdadeiro sentido da vida?

E que verdadeiro sentido há?

De que vida?

Da vida das coisas que andam e voam

Que rastejam e nadam

Que amam e beijam

Que odeiam e vociferam

Que soltam balões ao vento

Porque o vento faz todo sentido!

No sentido de ir e vir

Trazendo em suas asas o tempo

O tempo e suas manias de pôr sentido em tudo.

Porque de todo sentido que já houve

Não se concluiu sentido algum

E quando há de se ater sentido ao mundo, o mundo se esvairá

Pois a beleza está em que nada faça sentido

E ainda assim o rio segue seu curso

Moldando os seixos

Tornando-os escorregadios e roliços

Enquanto pernas se enlaçam

Bocas se beijam loucamente

Juras de amor são feitas e quebradas

Num descabimento de sentidos.

No entanto há o tudo que prevalece

E este tudo, embora não preencha nada,

faz todo sentido.

O sentido de tudo que não chega à ser nada!

Elisa Salles ( Elisa Flor)
Enviado por Elisa Salles ( Elisa Flor) em 11/09/2018
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