O SENTIDO DAS " COISAS"
Que sentido há em procurar os sentidos das coisas
As coisas competem em si em não ter sentido algum
Que sentido poderia ter uma cadeira ao canto?
Ou o sentido do canto vazio da cadeira?
No fundo de todas as coisas, cousa alguma faz sentido
A solidão que carcome a alma em silêncio assustador
O medo de deixar-se vê a totalidade do eu
Cada reentrância, cada lacuna, cada senda
O verso que o poeta não escreve
A palavra que se esconde por medo de que a sensurem
Há sentido no sentir do poeta?
Podem escrever sobre o verdadeiro sentido da vida?
E que verdadeiro sentido há?
De que vida?
Da vida das coisas que andam e voam
Que rastejam e nadam
Que amam e beijam
Que odeiam e vociferam
Que soltam balões ao vento
Porque o vento faz todo sentido!
No sentido de ir e vir
Trazendo em suas asas o tempo
O tempo e suas manias de pôr sentido em tudo.
Porque de todo sentido que já houve
Não se concluiu sentido algum
E quando há de se ater sentido ao mundo, o mundo se esvairá
Pois a beleza está em que nada faça sentido
E ainda assim o rio segue seu curso
Moldando os seixos
Tornando-os escorregadios e roliços
Enquanto pernas se enlaçam
Bocas se beijam loucamente
Juras de amor são feitas e quebradas
Num descabimento de sentidos.
No entanto há o tudo que prevalece
E este tudo, embora não preencha nada,
faz todo sentido.
O sentido de tudo que não chega à ser nada!