Fuga

Quisera, ao sol do dia,

Esconder minha presença

Em profundo poço.

Dormir o sono longo

Dos justos, dos cansados.

Quisera, ao sol do dia,

Ser apenas uma pedra

Numa gruta distante.

Quisera, ao sol do dia,

Ser apenas uma folha

Num livro com folhas

Sem fim.

Quisera viver somente à noite:

Hora mágica do dia!

Que ventura ao espírito!

Quão liberta e suave

A vida noturna,

Em que a alma se despoja

Dos grilhões da rotina diária

Em que nossos sentimentos se abrandam

Ao contato de outros seres.

Hora mágica,

Dos cantores de poesia

Dos suspiros românticos

Dos aromas de mel

Da lua irradiando saudades!

Triste dia que chega

Ao canto do arauto emplumado!

Triste vida luminosa

E, também, escura

Que clareia o inimigo

Que, à noite, era irmão!