Casinha de papel machê

Vagueio pela vida como quem anda pela calçada de uma rua deserta, sem nada pra ver

Tanto a observar, tanto a apreciar, tanto por fazer

E eu aqui vagueando pela minha calçada da rua vazia.

Lá fora, fora da minha casinha, o mundo acontecendo, a vida pulsando

E eu aqui, trancada, sozinha, fazia, esperando ser arrancada à força.

Mas sei que não vai rolar, não hão de me salvar daqui.

Então, vagarosamente, ainda com muitas inquietações

Levanto-me, a passos de tartaruga, e encaminho-me para a porta de saída.

Mas, aí percebo que o casulo, minha casinha de papel machê, ficaria sempre ali, à minha espera,

Para momentos de crise.

Neste instante, como que num súbito impulso,

Destruo auquele casulo, de dentro para fora

Vou quebrando minhas paredes de proteção, minha prisão,

Paredes de papel machê, agora destruídas, aos cacos no chão.

Não sei como será agora: os medos, as incertezas me rondam

Mas de uma coisa sei: nunca mais ficarei trancada, distante da vida.

Agora, já sem casulo, me olho no espelho, procurando em mim caminhos

E descubro que sou múltipla, caibo em muitos futuros

Não quero escolher um, porque perdi muito tempo apenas sonhando

Com todos eles, sem começar nenhum.

Agora quero tudo, tudo que couber em mim e muito mais

Porque aprendi palavrinhas como dinamicidade e resiliência.

Agora, me deem licença que preciso construir um bocado de futuros que sonhei pra mim.

Marta Almeida: 18/07/2018