No desabafo do sentido...

O dia amanheceu nublado.

Parecia pensativo, ou em trabalho espiritual...

Como eu!

Estou como quem se inicia,

Num trabalho de parto,

sem ter tido, antes, a experiência.

O medo da expectativa, da responsabilidade

da oportunidade, do desafio gritante..

Ah que gigante! Que gigante querer,

Que gigante sonho, que gigante vontade de ser...

Será que posso?

Será que consigo?

Como, meu Deus?!!!

E então, na tarde desse dia,

Olhando da janela vejo,

Indiferentes e belas,

as flores florindo, singelas,

Nem ai pra minha dor!

E os pássaros, então?

Lá fora cantando e voando,

Livremente vivendo,

Parecendo não se preocupar com nada...

Por um instante penso:

- Estão a zombar de mim?!

Então olho de novo e vejo

A natureza, aparentemente estática...

Mas olhando de novo pra ela,

Através da minha janela,

Enxergo um quê de melancolia...

E nessa minha espera,

Nesse meu viver o dia,

Uma certa agonia se encerra

E uma dor sorrateira,

Entremeia disfarçada de nada,

Meu coração...

Então eu sinto uma certa agonia.

Uma agonia agonienta,

Uma agonia chata...

É quase um sofrimento,

É quase uma solidão,

E quase um descontentamento...

Mas por quê?

Porque estar assim,

Se no fim

tudo acaba dando certo?

Porque no meio da tempestade,

Ou numa tarde de apatia,

Se vive dores e apertos???

Por que no meio da dúvida

Ou do recomeço,

Dói tanto a espera?

Essa insegurança atravessa

Como faca

Meu peito espiritual humano...

E então a um diagnóstico chego:

Ser um humano é ser um ser dolorido,

Ou ao menos sentido,

Por nem sempre poder escolher,

O que realmente sentir.

Maria Tereza Bodemer
Enviado por Maria Tereza Bodemer em 02/12/2017
Reeditado em 02/12/2017
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