As horas, para quem?
Não pensem que são as horas.
Elas apenas marcam o tempo.
Nem são exatamente o que passa.
Não pensem que algo se demora.
Tudo apenas existe num limbo.
Dormitam num armário de traças.
Acordam antes de se consumir?
No salto entre os milésimos,
segundos acontecem primeiro?
Tudo se move para o existir,
ou se paralisa nos istmos
Sem um motivo derradeiro.
O que marca esse tempo,
senão ele no comando,
próprio em seu reino,
solitário contentamento
de deus em desencanto,
a fugir do cativeiro.
Para quem são as horas,
senão para os que passam?
Quem precisa registrá-las,
controlar o aqui e agora,
senão aqueles que expiram
e só sabem desencantar?