Milagre

E tu que és mil vezes agre

que o vinagre ou o vinho...

Do que te fazes em mim?

Do que eu sou feito, enfim?

E tu, milagre, o que fazes

para que eu te acredite?

Quanto me pedes que te repita

as orações que sequer replicas?

Se me respondes uma, sou louco!

Há mil que me dirão em doce fase,

mas um sequer me acreditará são.

Insanos que somos de te procurar.

A vil face se faz na serpente

ou num pombo alado e branco

como se não ter dentes ou presas

não te possa pegar em surpresa.

Nem te contestar o lugar de criador.

Nem te inovar na dor que não sente,

ou simplesmente esmaecer ao eter.

Deixar de ser até mesmo na mente.

Não haverás se eu não existir.

Não serás se eu não nascer.

Não és se eu não me permitir.

Então, milagre, faça-me crer!