POR UM ESPANTALHO

POR UM ESPANTALHO

AUTOR: Paulo Roberto Giesteira

O céu cinzento escurece as garrinchas e galhos,

Faz sombra e assombra as cidades abandonadas,

Desmoronadas a despedaçar com os cascalhos,

Como de sobra resta a imagem intacta de um espantalho.

Num tormento a um sentimento em frangalhos,

Abandonado em seu mal estado,

Por todos os lados, Espalhados,

Como roupas remendadas em pedaços feitos retalhos.

Exposto ao vento quarando no tempo,

Em seu relento espantado aos seus adventos,

Com as suas vestes retalhadas em frangalhos,

Por aromas exalados pelas ervas a coentro.

Sentinela da luz as passaradas que a seu redor reluz,

Devastando as sementes que os bons frutos a produz,

Como números absortos das multidões das gentes,

A demograficamente sucumbir os espaços correntes.

Jogados ao chão como migalhas ou como medalhas,

Da brilho cintilante das belezas e espelhantes malhas,

Suprimento em compartimento das cintilantes tralhas,

Vislumbrando as luzes nos desenhos a escapar das falhas.

Exposto ao ar e ao aroma dovento,

Caminhando a atravessar os caminhos e atalhos,

Numa brisa ou vento forte no ardor das cebolas e alhos,

Da suma imagem desgarrada de um espantalho.

Pelos garrinchas, moirões e galhos,

Nas sombras vazias dos arvoredos empalhados,

Pelas encostas dos morros ou rodovias empalhados,

Ou em jogo de apostas como de carteado do baralho.

Dos troncos mais rígidos como dos carvalhos,

Que fazem os brilhos dos deslizantes assoalhos.

Numa altura bem alta como do mastro do caralho,

Mortificado como estátua e algo que está a falho.

Como uma pessoa estagnada ao atoa,

Na solidão a alguma coisa ou nada,

Silêncios que anunciam a dor a pernada,

Pelas chuvas que levam tudo as aguas lavadas.

Como uma coisa perdida por toda uma vida por ser maltratado,

Por seus frangalhos por caminhos ou atalhos,

No vento que balança por muitos bugalhos,

Das folhas, rolhas, frutos e talos.

Do que resta dos seus cascalhos,

Omisso mundo a seu fundo,

Do ar com os seus fungos,

Por esboços de imagens que são traçados.

Irmandades dos sonhos a uma coisa que a outra abraça,

Redentor naquilo que se encontra graça,

Dos desesperos a redimir das desgraças,

Sorridente a comemorar com as suas taças.

Mal vestido aberto ou encoberto pelos seus retalhos,

A espantar intrusos num pau sustentado por um galho,

Dos que vem a devastar as sementes,

Numerosos a uma multidão de gente.

Fincando pelo chão as migalhas,

Como de resto a que cair dos galhos,

As suas vestes ou tralhas,

Usadas com remendos em retalhos.

As suas invisíveis medalhas,

Segue sobre seus frangalhos,

Parado de braços abertos no seu útil trabalho,

Em seu local boreal de estátua, o espantalho.

Paulo Roberto Giesteira
Enviado por Paulo Roberto Giesteira em 05/04/2017
Código do texto: T5961756
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