EU E O TEMPO

 

O tempo é uma megera intangível

Me consome e me acorda todo dia

Repetida e sempre tão previsível

Como um triste refrão de melodia.

 

Assim, sigo a vida nesse endurecido mundo

De vastidões infindas... de tantas almas...

E a minha, renhida, nem sempre sorrindo

Segue siosa a procura de praias calmas.

 

Percebo, não restam muitas cores

Que possam embelezar minhas retinas

Sou como íman humano de muitas dores

Fim de festa, sem confetes e serpentinas.

 

Não corri, não me aprecei, acho...

E nem sempre pensei na chegada

Só agora, como um vil escracho

Não prego os olhos nas madrugadas.

 

Será isso uma sina, um réquiem

Uma oração sem fé nem sentido?

Pensando nisso sou só ninguém

Vivendo a vida triste e deprimido.

 

Terá o fim, fim em si mesmo

Será o agora real, realmente?

Ou tudo não passa de um ermo

Que tenho que transpor contente.

 

Sou um reles viajante em chegada

Numa vasta e louca estação solitária

Vindo de uma longa viagem vivida

Chegando ao ápice da sua história.

 

Sou, enfim, uma grotesca incógnita

Dividido em pedaços de mim mesmo

Hiatos de tempos passados e sem rota;

Ainda caminhando solene... e a esmo!


Haromax