a antítese
Míopes , são os donos dos instantes
Foi-se o amor , de teus olhos a vertigem
Inexatos , insensatos , inconstantes
Que em meus olhos os teus fingem
Pois não sabem se entregar sem ter
Que se matam uns nos outros em lar
Que se beijam em suspiros sem ar
E são incoerentes em ser não ser
Olhos que se fitam na quietude
A ebulição dos corpos um espasmo
O sexo do inimigo se tem amiúde
Em ferir a si mesmo no orgasmo
A mulher a quem penso , filosofia
De tanto pensar a nego , não tenho
Finjo de amar , a faço de poesia
Uma alquimia de anseio e desdenho
Desejo tão solene a mim
Como quem busca no outro
No espelho , Um reflexo sem fim
Fazer do amigo próximo , o outro
E outro , e outro incansavelmente
De tudo sou invisível e cansado
No movimento universal , estou parado
Na fluidez , no repetido e inevitável , ardente
De tudo como amante eu sou um ressentido
De me ver a esmo dentro do sublime e do perdido
Eu sou o andarilho ríspido , habito no ausente
Dentro da inércia viva do infinito
Literalmente DOM QUIXOTE
02/05/2016