Nada findo

Levei mais de oitenta tapas

A pele do rosto

Dura como latas

Enrugada ou lisa

Fica ardida

A vida ferida segue seguida

De dor

E o amor segue com a dor

Os anos e os desenganos.

Os planos de cor azul

Viram cinza

Tecem lágrimas

As mágoas

No meio da chuva

Se confundem com as lágrimas.

As mãos caem no espaço

Agarram o cansaço

E o que faço perde o passo.

Piso o chão que escurece os pés

Converso com coisas rotas

As palavras, as bocas

Também se confundem

E os dentes mordem o silêncio.

Os lábios encerram beijos e tudo que não quero esquecer

As viagens, os passeios, os anseios.

A boca também busca seios.

O sangue tremula

A dúvida agita e anula

O que me faz triste

O rio cava o peito e a areia

O vento sopra a veia

Que depura o sangue

A vida, um mangue

Vira chão

E nessa fruição

A alma incorpora sortilégios.

Lambendo estrelas

Continuo existindo.

O dia-a-dia seguindo.

Seguindo...

Nada findo.