do princípio (1992)
há uma chuva que pode nascer
de um aborto qualquer -
parto de migalhas profundas
há uma chuva que pode inundar
as antenas da percepção –
sementes prestes a inventar
conflitos de estação
mãos calejadas
remam a esperança
lançam arpões com ânsia de fisgar
novos portos, novos espaços para habitar
há uma chuva em mim
que não sabe cair
afoga-me, assim, repentinamente
morro, sendo ainda semente
sendo parte de uma loucura
que não cabe dentro da gente -
loucura que fere, arromba o peito,
maltratando emoções
que não foram expulsas
pulso em silêncio
chuva não nasce
nuvens pesam na cabeça
águas não invadem
territórios inexplorados
então, morro de sede,
já que a fonte não foi descoberta