NEM RESTO NEM QUOCIENTE
Havia uma vertente
Desaguando num riacho
A vida de cima a baixo
Crescia remanescente
A floresta da nascente
Derrubaram pra carvão
A terra correu no chão
Assoreando o arroio
Se não houver um apoio
Não há mais vida nem nada
Perder-se-á a boiada
Pela falta de um aboio.
O tempo abriu a boca
Comeu a minha mocidade
Peguei a realidade
Troquei na minha inocência
O avanço da Ciência
Quase que me deixou louco
Quando eu aprendi um pouco
Pra poder dar meu recado
Tudo que eu vi foi trocado
Foi arrancado o reboco
A moeda virou troco
E tudo ficou mudado.
Quando eu olhei pro lado
Tudo se mudou pra frente
E o que tem dentro da gente
Nem é mais o que se sabe
Não sei o que, que mais cabe
Na boca que não tem dente
Como se faz um repente
Ou se compõe uma canção
Não sei se na minha mão
Um pássaro preso inda vale
Ou se o pássaro solto no vale
Compensa uma boa ação.
Recomecei novamente
O que eu havia estudado
Pensei que o resultado
Fosse resposta descente
A Ciência foi pra frente
Buscando se aprofundar
Entrou no DNA
Já fez o clone de gente
Hoje a dúvida mais presente
É se “o clonar” é errado
E não se sabe o resultado
Nem resto, nem quociente.