Enterro de Mim
MORTE! Essa será a solução.
Para meu escravo e algoz, a morte e o enterro indigno!
Esse meu atormentador eterno que me conduz à loucura infeliz.
A loucura em si é-me louvável, desde que feliz e singularmente genial.
Mas essa infelicidade rabugenta que me afasta das pessoas
Impede-me de conviver com tão boas gentes,
Legais, risonhas, felizes, alguns pouco confiáveis,
[Não no pior sentido, pois todos já somos os piores. Mas por defeitos próprios de todo humano]
E outras plenamente confiáveis
Não livres de deslizes.
Mas ainda assim, gentes boas.
Pois, se somos todos humanos, e, logo, todos portadores dos mesmos defeitos,
Sendo apenas alguns mais fracos em uns tipos e outros mais em outros,
Mas todos capazes dos mesmos erros,
Por que, pois, haveríamos de ter direito de julgar outros de nós mesmos,
Ou, antes, nos excluir ou excluir a outros por seus erros?
Confiar não é pensar que o outro seja perfeito,
Ou mesmo esperar isso dele.
Pois o que nos torna Humanos é justamente nossa imperfeição.
Confiança descende de fé.
Confiar é acreditar no outro com amor, abraçando o indivíduo como um pacote,
E não apenas em um recorte específico de nosso interesse.
É amar o outro com tudo que ele é: partes boas e ruins
Porque não se é capaz de recortar uma pessoa em partes fazendo-a convir e expressar apenas as partes melhores
Mesmo que essa pessoa tentasse se recortar em nome de merecer confiança,
Seria em vão. É da nossa natureza sermos o bem o mal misturados.
E até nosso bem tem motivações egoístas, mesquinhas e más,
Portanto ele também é, em sua origem, mal.
Não existe confiança sem amor.
[Não me refiro, aqui, a amor romântico, mas ao sentimento que deve imperar
Para relacionamentos firmes e robustos.]
Podemos nos gabar de nunca sermos traídos e enganados
Mas não desfrutaremos o prazer de saber e vivenciar o amor (mesmo que não o saibamos)
Até nos relacionaremos bem, mas até a página 20
Então, abandonaremos aquela relação por outra, nova, fresca e livre de vícios
Próprios da convivência e que exigem amor/confiança para serem suportados com graça
Ou poderemos trocentas vezes sermos traídos, decepcionados, frustrados
Tendo vivido trocentos e tantos amores, felicidades e relacionamentos bem sucedidos
Pois também teremos outras torcentas magoado, traído, frustrado e decepcionado alguéns.
Recebemos a vida de presente para vive-la enxergando-a por seu melhor ângulo.
Hoje compreendo por que ‘A Vida é Bela’: confiança
Confiar tua vida nas mãos e futuro do outro, sabendo que não será você,
As escolhas serão diferentes das tuas, e, provavelmente, você as desaprovaria,
Abrir mão do EU, meu eterno algoz, para ser altruísta.
A vida é mesmo bela para quem sabe olhá-la.
Marta Almeida
28/11/2014