LINHA DO TEMPO
(José Ribeiro de Oliveira)
Estou escrito em mim mesmo
Nas cicatrizes que trago
No brilho do meu olhar
Na tolerância que desenvolveu min’alma
Nos meus passos lentos, na minha calma
No meu modo de pensar
Estou escrito em mim mesmo
Em cada linha do meu rosto
No meu jeito de falar
Na minha têmpora lilás
Do tempo expondo sinais
Que da terra pude arar
Estou escrito em mim mesmo
No meu apurado gosto
Na forma de ver a vida
Nas reflexões que faço
No meu prumo, no compasso
Nessa estrada tão comprida
Estou escrito em mim mesmo
Nas rugas da minha face
Na moldura do meu ser
Na comunhão dos sentidos
Do modo mais refletido
Da estrada a percorrer
Estou escrito em mim mesmo
Com frases sublinhais
Em verso e poesia
Pra leitura bem profunda
Numa história bem fecunda
De gozo e de agonia
Estou escrito em mim mesmo
Na textura da minha derme
No castigo do cansaço
No apego ao meu passado
Nos sonhos acalentados
E nos planos que hoje faço
Estou escrito em mim mesmo
No tremor das minhas mãos
Nas minhas cordas vocais
No meu escasso sorriso
No meu querer mais preciso
No porto, ao descer do cais
Estou escrito em mim mesmo
Qual livro aberto na mesa
Para se ler e pensar
Vida bela, vida em luta
Vivida, sofrida, impoluta
Deixada pra copiar.