DESABAFO DE UM PASSARINHO

Oh, inculta Coruja, ave de rapina,

nascida em luto, parto doloroso,

para saudar-te - ave da escuridão-

esgalhou-se o canto tenebroso

dos vitrais estilhaçados ao chão.

Oh, triste sina tua vir ao mundo

com alma cinza, sem esperança...

Teu trilar em noites sem estrelas

são apenas blasfêmias, murmúrios

chorados pelo nascer da aurora.

Saibas, a cegueira que te ofusca

das luzes, risos e primaveras,

é a mesma que sorve da lama

o horror de tuas dores severas:

espinhos mortos em chama!

No cárcere das plumas imundas

da fina neblina que te vestes

cobres em vão, farsas bramidas:

mágoas e desilusões reprimidas

no deserto de teus fracassos!

Por que, oh triste rasga mortalha,

Teimas cuspir tua cicuta amarga

Nas águas dos rios que tu bebes?

Por que aprisionas na clausura fria

Turíbulos de flores, germes alegrias?

Abre-te ao mundo feito girassóis

Lanças-te aos crisântemos da vida

Deixa-te entrar a luz, florescer paz!

Pintas em arco-íris os lírios de risos

No mosaico dourado que te cerca!

Afasta-te do vil e ridente anjo caído,

da podridão mentirosa e desmedida

da ignorância traidora que te vela!

Deixa-te chover flores de estrelas,

E, ao partires, a saudade te saudarás...

Manaus (AM), noite sem estrelas do dia 07 de novembro de 2013.

Eylan Lins
Enviado por Eylan Lins em 10/11/2013
Reeditado em 20/01/2015
Código do texto: T4564316
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