DESABAFO DE UM PASSARINHO
Oh, inculta Coruja, ave de rapina,
nascida em luto, parto doloroso,
para saudar-te - ave da escuridão-
esgalhou-se o canto tenebroso
dos vitrais estilhaçados ao chão.
Oh, triste sina tua vir ao mundo
com alma cinza, sem esperança...
Teu trilar em noites sem estrelas
são apenas blasfêmias, murmúrios
chorados pelo nascer da aurora.
Saibas, a cegueira que te ofusca
das luzes, risos e primaveras,
é a mesma que sorve da lama
o horror de tuas dores severas:
espinhos mortos em chama!
No cárcere das plumas imundas
da fina neblina que te vestes
cobres em vão, farsas bramidas:
mágoas e desilusões reprimidas
no deserto de teus fracassos!
Por que, oh triste rasga mortalha,
Teimas cuspir tua cicuta amarga
Nas águas dos rios que tu bebes?
Por que aprisionas na clausura fria
Turíbulos de flores, germes alegrias?
Abre-te ao mundo feito girassóis
Lanças-te aos crisântemos da vida
Deixa-te entrar a luz, florescer paz!
Pintas em arco-íris os lírios de risos
No mosaico dourado que te cerca!
Afasta-te do vil e ridente anjo caído,
da podridão mentirosa e desmedida
da ignorância traidora que te vela!
Deixa-te chover flores de estrelas,
E, ao partires, a saudade te saudarás...
Manaus (AM), noite sem estrelas do dia 07 de novembro de 2013.