NEGAÇÃO
Não sou poeta, jamais serei...
Apenas trago no peito
a essência fulgurante
das flores de Baudelaire,
a instigante obra errante
da Divina Comédia de Dante
e o romantismo de Heine!
Em meu corpo se espalha
a doce essência matizada
dos girassóis (di)versos
do bardo florido do Andirá,
o som da “Frauta”, e o doces
rondeis de frutas de Bacellar!
Que junto às pedras de Aninha,
e o concretismo de Gullar
fazem de mim, espectro!
Não sou poema, jamais serei...
Apenas carrego os versos
da melancolia “dos Anjos”,
a dor e ternura de Florbela,
As Sete Faces de Drummond,
e a liberdade que Bandeira,
e Violeta Branca nos revela!
Também se apossou de mim
as inquietações de Neruda,
o forte aroma de jasmim
do modernismo de Quintana,
e toda a obra de Pessoa:
tesouro de alva porcelana!
Flora igualmente em meu peito
a simplicidade de Patativa:
dádiva maior em meu leito.
Não sou poesia, jamais serei...
Sou apenas vaga luz
metrificada em sonhos...
O verbo que chora as dores,
dos sentimentos enfadonhos:
angustias, desejos e amores
em olhos e risos tristonhos!
Sou a resistência da palavra,
que vagueia em ventos livres,
sem rimas, estética ou lavra...
Sou a essência feliz, risonha,
arte pintada, sentida, falada.
Os viveres mais profundos
refletidos na alma velada!
No versejar da subjetividade
sou a voz do trovão que revela:
a luz incandescente d'alma!