INTEMPORAL

Há algo de fascinante num deserto.

Como cão abandonado sem dono

é lá que buscamos uma trindade,

que fique ante nós, aqui por perto…

sei que por mim eu não respondo

em todo esta fútil e vil iniquidade.

A areia do deserto, a perder de vista

é desconsolo para os mais fracos…

mas quem como eu escuta do corvo

o grito, só pode ser alquimista,

com velhos testamentos e tratos,

que nunca beneficiaram o povo.

Cogumelos, chás e alucinações,

volteiam-nos na cabeça como sapos.

O Xamã espera por nós na entrada…

enquanto o deserto cria fricções

e nos vai mostrando os raros cacos

em que, pródigos, criamos a estrada,

Que nos levará deserto adentro,

famintos e sequiosos de água pura.

Venham! Venham todos, para ver

a vossa própria morte, o unguento

que verte de vossa candura…

quem, de vós, virá aqui se submeter?

Nesta Terra abandonada por Deus,

só os mais fortes sobrevivem,

para contar o que lhes aconteceu,

enfrentando infernos, subindo aos céus,

inda que outros destes se esquivem,

aconchegados nos braços de Morfeu.

Já viram a morte ante vossos olhos?

Ela chega com luvas de pelica,

tacteando paredes e sombras,

arrastando-nos pelos escolhos

de uma laguna extremamente rica,

soltando aí as prazenteiras pombas.

Jorge Humberto

22/02/08

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 14/03/2008
Código do texto: T900460