Os olhos do relógio
Há um silêncio que toca o ponteiro distraído,
uma pausa entre as horas que ninguém traduz;
é quando o tempo, num instante ferido,
veste o véu da sombra e apaga a luz.
No brilho opaco que a madrugada acena,
caminho às cegas, mas vejo além;
no tic-tac mudo, a memória é plena,
como se o agora fosse um vão de refém.
Poucos sabem que tu enxerga a noite
melhor quando os olhos do relógio, no ar raro,
piscam para o passado em um toque insone,
segredando ao escuro seu traço mais claro.
Entre os segundos que fingem correr,
há um eco de ontem, um fio revelado;
o relógio pisca para me dizer
que o tempo é um jogo de olhos fechados.