Os olhos do relógio

Há um silêncio que toca o ponteiro distraído,

uma pausa entre as horas que ninguém traduz;

é quando o tempo, num instante ferido,

veste o véu da sombra e apaga a luz.

No brilho opaco que a madrugada acena,

caminho às cegas, mas vejo além;

no tic-tac mudo, a memória é plena,

como se o agora fosse um vão de refém.

Poucos sabem que tu enxerga a noite

melhor quando os olhos do relógio, no ar raro,

piscam para o passado em um toque insone,

segredando ao escuro seu traço mais claro.

Entre os segundos que fingem correr,

há um eco de ontem, um fio revelado;

o relógio pisca para me dizer

que o tempo é um jogo de olhos fechados.

Fernando de Fidenza
Enviado por Fernando de Fidenza em 05/11/2024
Código do texto: T8189784
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