Para o lado errado
No campo, o sol risca um passo sereno,
mas a flor se distrai no reflexo velado;
quem diria, o girassol baila sem aceno,
buscando um brilho pelo lado errado.
Há uma curva no tempo, um rastro invertido,
onde o céu se confunde no chão desenhado,
onde o olhar da flor é sonho perdido,
um lampejo de sombra num campo dourado.
O que ninguém espera é que o girassol, em segredo,
pode olhar para o lado errado sem receio ou guia,
enquanto a lua, em silêncio, risca um enredo,
com seu riso suspenso ao meio-dia.
E nessa dança ao avesso, vejo um eco murmurante,
no giro sutil de um desejo calado,
como se a vida, no instante errante,
fosse uma curva que flui para o lado errado.