Quando a janela reflete
O olhar desliza entre o claro e o profundo,
buscando respostas no vidro calado,
a fresta da janela é um rasgo do mundo,
onde o céu se abre em azul esfumado.
Entre o que vejo e o que a vista inventa,
há sombras guardadas, um riso velado,
pois o espelho conhece a face sedenta,
que mira a verdade no próprio passado.
Você já se deu conta de que o espelho, atento,
ri de si mesmo quando a janela reflete o futuro?
Como quem joga no ar um segredo ao vento,
esconde mistérios sob um brilho obscuro.
Assim, cada vidro me devolve um enigma,
um tempo suspenso que a luz não traduz,
e a alma que espreita, sem pressa, se estigma,
no reflexo mudo, onde o sonho reluz.