A riqueza da fugacidade

Vão longe as coisas já passadas

Não podemos voltar para recuperá-las

E só de as pensar

Revela-se em nós o vazio de não as ter mais...

E somos isso, os vazios cada vez maiores

Dos passos que vamos dando

E a medida que os realizamos

Escorrem para trás

Se pondo numa distância dentro da substância indefinida

Não é nem no tempo nem no espaço

Mas na memória que vai se diluindo

Pois temos que pensar no que vamos fazer

No que estamos fazendo em cada momento

Que deixa de existir no se fazer,

Não sua existência entre o passado e o futuro

Não posição que nos encontramos

Nem lá e nem cá estamos,

Somos empurrados e damos mais um passo

Um passo que sendo dado deixa de ser

E cai nisso que chamamos de memória

Esta composta de realidades vividas

Coisas pequenas e grandes

Pedaços de fantasias e lembranças

Misturadas de forma indecifrável

Como o dia e como a noite

Dentro de nós...

Vão longe as coisas já vividas

Aqui agora eu sinto morrendo em mim

Cada momento que em mim chega

Sou um cemitério de tudo que me acontece

Não é possível conversar com o que me chega

Pois cada chegada é também partida

Eu sou um olá e um adeus simultâneos

Saudades é o que fica

Mas nem isso me preenche

Não tenho saudades de nada

De nada que não possa ser revivido

Nada pode ser revivido

Só podemos viver no entre

Entre o que fomos e o que vamos ser imediatamente

Há em cada um de nós um nascimento e uma morte

A alegria e a dor da separação inexorável

Um abraço no vazio

Não podemos amar o Nascimento

Não podemos ficar de Luto

Não dá tempo

Assim cada um de nós está vivo e está morto

No mesmo instante do único instante em que podemos ser...

Vão longe as coisas já passadas,

Estão à beira de nós,

A vida que nos chega continuamente

Continuamente morremos

E um dia até nossa lembrança se apagará

Da mente daqueles que por aqui ficarem...

Então talvez estejamos, por isso mesmo

Felizes...

A felicidade não é alcançável

Apenas a alegria é possível

Dentro dessa fugacidade...

Sim, é a única coisa que podemos tocar

De tudo na vida

A fugacidade

Quem diz que tem mais que essa riqueza

Não pode está vivendo o aqui e o agora

Que já passaram...

Já passaram,

Apenas um ser, outro

Descendente de um eu

Nós mesmos é que continuamos...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 26/07/2024
Reeditado em 29/07/2024
Código do texto: T8114950
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