Quem sabe se eu andar mais longe
Tam Tam...
Quem sabe se eu andar mais longe
Mais distante no tempo
Quem sabe se eu tiver tempo
Eu possa olhar para o aqui e o agora
E ter algum entendimento
Como o que tenho
Cada vez mais claro
Sobre o que se passou
Ainda mais sobre o que se passou há muito
Muito tempo...
Porque quem pode entender o que aconteceu
Há um segundo atrás?
Não sou desses
Não sou desses que andam precavidos
Que não pisam em falso
Que não caem nos buracos
Dessas ruas
Dessa grande Rua
Por onde o tempo flui
E os acontecimentos são gravados
Para sempre
Como uma pegada de fogo
Feito sobre a pedra mais dura...
Não tenho vontades
Além dessa de me afastar
De ir além da distância do olhar
E assim entender
E assim me encontrar
Porque no momento estou sempre perdido
E quem pode dizer que se achou
Num momento
E permaneceu assim desde então?
Sempre é um desconhecido
Que de repente me toma a frente
Um eu que se entende
No mesmo momento
Que outro eu deixou de entender
O que vinha pensando
Planejando ser desse ou daquele jeito,
Evitar certas coisas...
Subir montanhas
Amar mais a luz que a escuridão...
Eu não sei
É tudo que sei
Que eu não sei se um dia terei andado o suficiente
A ponto de entender o que aconteceu há um instante
Em instantes acumulados
Que vão tomando sentido
A medida que o tempo
Silenciosamente vai deixando
Dentro do meu coração
Códigos
Que pouco a pouco vão fazendo sentido
E nisso se apagam
E eu os tenho que lembrar
Para sempre
Sem os poder comunicar
Pois não podem de nenhuma forma serem comunicados
A ninguém...
E assim é o silêncio que me acompanha
E quando ando aqui no Maranhão
É o silêncio que vai sempre aumentando
A medida que vou me afastando
Arrastado pela força brutal do tempo
Do lugar onde estou...
E eu queria não estar em lugar nenhum...
Não verdade é extremamente difícil para mim
Dizer onde estou,
Meus pensamentos são difusos
Um por sobre o outro
Outro mais antigo surgindo agora
Numa espiral tridimensional
Como uma nuvem
E eu lá dentro
Não meu corpo
Mas eu, eu mesmo, tal qual resultou de tudo...
Mas quem sabe lá adiante
Essa corrente forte que me enverga
Essa corrente forte que me arrasta
Quem sabe lá à frente
Eu consiga me agarrar a uns galhos
De uma gameleira
E me salvar desse afogamento
Que é me ser o tempo todo
Sem me entender
Nem saber
Nem a rasão nem o porquê...
Sim, eu sonho com as sombras
Dos juazeiros,
Me deitar
E dormir profundamente
E sonhar
Sonhar que não existo
E assim tudo que penso
E que vou repensar
Possa em fim ser isso
Um não existir
Como quem dorme para sempre
Como uma pedra...
Não...
Como nada...
Sim, como um nada...
Eu sou um sonho
Não, eu não sou nada
Nem um pedra nem um caminho ermo perdido
Apenas nada...
Eu não consigo nem isso agora
Ser um nada
Eu não consigo ser um nada...
Quem sabe lá adiante eu entenda
Quem sabe eu tenha tempo
Dentro do tempo
E viver
Para entender
Por mínimo que seja
O que se passa agora...
Quem sabe se eu andar mais longe...