Os psicoplégicos

Estive entre os psicoplégicos,

Não como que os visita,

Entenda, mas como alguém

Extremamente debilitado.

E o que posso dizer daquelas

Passagens?

Do que ali se ouve?

O que posso trazer ao

Contado de tuas potências

Que resulte em bons frutos?

Ah, o desespero contido,

A expressar-se por olha-

Res vidrados

Que ninguém contemplou?

A dor mais que lancinante

A varar e tresvarar

O corpo e a alma de quem

Ali morreu e morreu

Outra e outra vez, dentro

Da dor e depois acordou

Da morte e ela, a dor,

Ainda estava lá,

Ah, o que posso dizer?

O meu cérebro é um líquido

Que se derrama num copo

E depois se o derrama

Noutra vasilha,

E uma parte dele

Evapora, e então ele é

Chovido e corre na superfície

Da Terra e é bebido,

É mijado, é sudoporizado,

E então o derrama

Num como e não para nunca...

Ah, o que posso dizer

Dos filhos e dos pais

E das mães que ali estavam,

Todos na condição de per-

Didos?

Os referenciais foram apagados...

2014

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 29/06/2024
Reeditado em 29/06/2024
Código do texto: T8096558
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