E àqueles que me viram passar...
Eu sou aquele em quem ninguém acreditou
Que de alguma forma trinta vezes venceu
Mas que em cada vitária um pouco se dilacerou
Eu sou aquele que antes de agir já perdeu
Aquele que por impulso se jogou no mar
A fim de profundezas que não se conheceu
Eu sou o que teimou em ficar
Onde ninguém mais desejaria
Um lugar de monstros a se condenar
Eu sou aquele que te olhou um dia
Num desses em que ia a correr
E de longe só meu olhar te seguiria
Eu sou o pensamento que foi te ver,
O que chegou a casa sem ver sentido
Naquilo tudo porque estava a sofrer
Eu sou alguém a quem e permitido
Ser seja quem for, mesmo você,
Ser você a mim jamais é proibido
Eu sou aquele que em si não cabe
O que quando a luz viu cego ficou
O que sobrou quando nada restou
Aquele que nada de si sabe
Eu sou a ausência na estrada
Uma vontade sem vontade
Uma mentira vestida de verdade
Uma poesia, uma palavra estragada...
E àqueles que me viram passar
Peço desculpas pela minha presença
Tento ir por onde ninguém há a andar
Porque eu trago em mim doenças
Que de serem vistas já fazem chorar
Os empiedados pela minha demência.