Flutuação
Para que servem as paredes
E o telhado,
Se a casa não tem portas,
janelas e coração?
Sabores iluminados,
chocolate,
Morango, cereja e mais!
Buuum!
Açúcares explosivos,
Diabetes em erupção.
Garrafa mensageira:
No tempo que as garrafas transportavam Poesias, encontrei está carta em uma viagem. Vamos recordar
os devaneios imaginativos de quem escreveu, enrolou esmeradamente a carta e enfiou-a em uma garrafa, tapou a boca e lançou-a nas águas.
Após entranhar mar aberto, sulcar as águas salgadas e abrindo esbranquiçadas clareiras laterais, o rastro de espuma borbulhante sinalizando a volúpia da aventura, retorno ao paradeiro habitual.
Como todo vivente auto-deserdado, chego introspectivo, silencioso, reflexivo. Os primeiros minutos, as primeiras horas, os primeiros dias me são estranhos. Possuem o sabor da deselegância. O perfume do vazio. Tudo e todos os objetos que estão ao meu redor existem em mim; mas Eu não existo em nenhum deles. A noite me vem, momento que arregalo os olhos nas profundezas abissais da escuridão, para nada ou tudo ver. Os melhores aprendizados são retiradas do invisível. São imagens que vêm e ficam para dizerem por quê vieram.
Abro portas e janelas. Acostumado ao movimento diário, todos os ambientes estão reticentes. Estão tomados pela incompletude.
Aos poucos, vagarosamente, o sol se aproxima. Lança seus raios cálidos, iluminando os ambientes; com eles, vêm a brisa minuana. Acaricia a poeira esparramada sobre os móveis, inspirando o sorumbático escriba. Faltam-lhe versos e prosa, sobram olhos e quietude mental.
Às vezes as palavras escritas perdem o significado, emudecem. Quando isso ocorre, o melhor é recorrer a outra forma de arte: o musical "Gaúcho corta jaca" de Cacai Nunes, por exemplo. E redescobre-se em "do silêncio para algum outro lugar". E o outro lugar é a missiva, na qual ordena: "viver a vida somente por vivê-la, não é viver; é preciso sulcar as águas, correr estradas, esclarecer os indecisos, cumprir a missão para a qual fostes enviado".
Requisitadas por versos soltos, as palavras escritas voltam a adquirir brilho próprio; inspiram o ludismo de remar devagar. Chegada possível de uma embarcação lenta...
Altas velocidades, bastam os pássaros de prata; por que os de penas, abrem as asas e deixam-se levar pelas lufadas de ventos. E o destino é onde a imaginação e os ventos repousam. Lá, tal qual pássaro de penas, sinto-me soberano e escrevo com fluidez:
Sob um bater de asas coreográfico,
A esbelta Garça desvenda os cumes,
Contempla os baixios,
Desbrava o ocaso.
E o que fazem os ventos que circulam ao lado dEla? Os ventos podem até interferir, mas não ousam detê-la!
E tudo que caminha lado a lado,
Todavia não prende, não segura, não opõe-se ao
movimento, não impede o caminho,
São mãos parceiras da liberdade,
Auxílio amigo emparelhado.
Fim.
P.S.: Fim?
Supondo o recomeço onde a Garrafa parar,
fim é Território, lugar, terra, torrão, que não existe.
Garrafas são lisas e coloridas e por serem objetos flutuadores, não possuem raízes.