Aos trancos, truques e troncos

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Saracuras piaram,

Vento soprou,

Sol se escondeu,

Tarde bocejou,

Garças brancas empoleiraram,

Noite não tardou,

Silêncio profundo chegou,

Pirilampos piscaram,

Sertão adormeceu.

Ruído?

Só o chuá das águas do riachinho,

Ninando os filhotes,

Embalando os pais,

Num sono reparador,

Para a labuta diária,

Digna busca pelo alimento,

Necessidade primária,

Ainda que dura e pesada,

Suor é rescaldo do labor,

Contentamento sempre,

Ao invés de dor.

Huuum,

Sol, chuva,

denso nevoeiro,

Lua vazia,

Tão bela quanto cheia,

Cachoeiras deslizam pelos penhascos rochosos,

Águas calmas paradas no remanso,

As correntes passam por aqui,

Zigue-zagues nos meandros,

Por lá pororocam,

Vorteiam pedras,

Sapateiam.

Pés nos pedais,

Ora lento,

Ora rápido,

Seguem obstinados,

Dos músculos das pernas,

Cada quilômetro rodado exige mais.

Pneus fritando no asfalto,

Ruas discretas,

Poeira demarcada nas estradas,

Sem paradas,

Iluminação artificial;

Pés, rodas e pedais,

Atolados no atoleiro,

Perrengue nada igual.

Corredores alamedados se abrem,

Mansos ou alvoroçados,

Horizontes aparecem,

Destino aventureiro,

A sina.

Testemunha sou,

Quando senta-se bem,

Bunda aquece feito chapa quente,

Não assa,

Em razão de saúde,

Oboé e alaúde,

Estrofes e versos,

Deleita-se com prosas,

Olhos nos olhos,

Conversando,

Ou escrevendo poesias,

Bendito sejas,

Benfazejo sofredor pedaleiro.

Se é feliz, sofrendo,

Nem é preciso carregar cruz, tomar martelada nas

mãos e colocar coroa de espinhos na cabeça;

então,

seja feliz costurando o rabo em cima do selim de lã,

linho,

Macio feito algodão,

Duro tal qual lenha,

Trepe numa bike,

Você também.

Para o sedentário,

Verbos suar, casar e cansar,

Conjugam-os como sofrer;

Mas vive mais,

Torna-se resistente,

Quem aposta na liberdade,

Feliz no pedal,

Feliz mente,

Renovação resiliente.

Entre Trancos, ciclones,

troncos, terremotos e truques:

Planeta rodando,

Dentro dele,

Sobre duas rodas,

Uma mente girando.

O etéreo é cheio de magias,

E atinge o Nirvana,

Quem se afasta da melancolia,

No sofrimento se encontra;

Secos ou molhados,

Pedais que sobem e descem,

Pneus que sulcam os veios da terra,

Mente às alturas,

Eleva,

Suspiro do coração,

Forte emoção,

Ao chegar no topo do relevo,

Puro e autêntico enlevo,

Eis a conclusão.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 11/09/2023
Reeditado em 11/09/2023
Código do texto: T7882834
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