Fragmentos de uma disciplinada Catarse
Vá lá no YouTube e ouça Vignini e Índio Cachoeira, no recital no Sesc Brasil. E prepare-se para o desprendimento.
É chegado o momento do Sol adormecer,
Adormecer no colo da tarde.
E a tarde meia molenga,
Acordará a noite.
E ela virá,
Mas não virá sozinha,
Pacata, serena, triunfante,
Trará em seu seio,
De seu materno seio,
Despertará a Lua.
E quem disse que a Lua existe sozinha,
Cometeu maior impropério,
Pois ela está rodeada de estrelas,
Sentinelas celestes.
E entre despedidas e encontros,
O fecundo espetáculo natural renasce,
Imerso em esplendor,
Agiganta-se,
E quem tiver olhos e sensibilidade,
Participará da fulgurante beleza noturna.
Mas até lá,
Para que mantenhas desperto,
A dupla de violeiros dá o tom da moda.
E qual foi o Deus da viola que disse que alguém dorme com esse arroubo sonoro!?
Inebriado pela musicalidade,
Aqui fico contemplando vagalumes,
Esperando as sentinelas,
E mergulhado em águas profundas,
Entendo os significados existentes nas mentes ocas.
Ecossistemas:
As histórias de matutos de camisas sem botões, os quais abrem as bocas para relatar as verdades honestas dos negócios feitos e cumpridos com fios de cabelos de bigodes cruzados,
quem respira e aspira a Natureza dos cafundós, vaus perigosos, gargantas e densos grotões, não contam os contos rurais nos arranha-céus das metrópoles, jamais.
Lá, nas cidades grandes, os homens de ternos, gravatas e sapatos bicos finos lustrados, têm uma generosa porção de dinheiro para ganhar, razão pela qual, não têm tempo de serem humanos.
Esnobe:
Oi, quanto tempo! Você sabia caro e nobre amigo(a), que existem vidas longas, vidas breves, chorosas e felizes, além da entorpecente e estimulante tela com a qual você gasta seus preciosos minutos, olhando, fofocando, fazendo selfies, para em seguida postar suas manias nas redes sociais.
Bundas e Vaginas:
Do ponto de vista ambiental, no Brasil existem frestas e sopradores em abundantes florestas e matas intocadas, tocadas por alguns animais que entocados, espreitam o perfume e sabor que há nos interiores.
Não existe professor, cátedra no idioma português que faça entender, quando não se entende - ou não querem entender - de figuras de estilo.
Deixar-se ser interpretadas conforme os interesses e ocasiões: esse é o mal das letras. Se assim procedem, que a ingratidão, a luxúria e a avareza não tenham a palavra.
Ao contrário, silenciem-se no chiqueiro. Mesmo caladas, estão erradas.
Isso curruiras, mostrem para que vieram.
Suba o cântico, abram os bicos,
Levante a poeira, gorjeiem passarada.
Festa disciplinada e libertária, sim;
Arapucas, laços, safadeza e corrupção,
Aqui, neste terreiro,
Não.
Embebedo pela vossa catarse,
Ó pequenos seres canoros,
Danço em rodopios,
Canto melodias,
Salto piruetas,
Crio asas,
Pássaro sou,
Posso voar.
A arte de se interessar pelo singelo saber honesto,
Resolve os grandes problemas circunstanciais do viver em uma sociedade podre,
Em paz,
Pular as adversidades noite e dia,
Em harmonia.
Por onde caminho,
Com Sol ou sem o clarão da Lua,
A sombra da liberdade,
Para não dizer da loucura,
Me acompanha.