Noite fria
A gente vive nesse mundo, em meio as cenas de ventilação constante do mal.
Ao fim, entramos num modo automático sem igual.
A gente se acostuma sem pensar, vendo as cenas de clamor e desespero e lacrimejar.
Sentimos pela dor do outro, mas com o passar dos dias não é de lembrar.
A gente vai levando a vida nesse modo acelerado.
Buscando a todo custo as conquistas pessoais como forma de algo aceitável.
Matamos nossos sonhos na maior parte da caminhada.
Tudo em prol de ter aquele diamante que parecia ser a única visão da estrada.
A gente se embriaga de estresse e inala o tempo todo a insatisfação
Muitas das vezes, nessa corrida dos ratos, choramos internamente a dor do coração.
E pensar que hoje, chegamos num nível totalmente surreal.
Duvidamos de toda atitude boa das pessoas, por pensar que na sequência há um mal.
Vejo bons sendo vistos como tolos, bestas, perdendo seu tempo.
Quando na verdade fazer o bem como amor não é um tormento.
Dizer que se dedicar ao outro sem esperar nada tornou-se uma utopia.
Onde vamos parar, se formos pensar que a vida é compra e troca todo o dia?
Corações fechados de tantos pontos sobrepostos de corte.
Mentes seguindo caminhos sem destino, sem norte .
Saudades tenho dos tempos de criança.
Brincávamos com todo mundo, éramos puros e seguros, éramos a infância.
Hoje tentam ser o milionário da noite para o dia.
O "viver" é propagador de status de copos, bebidas, viagens e orgias.
Onde foi parar aqueles retratos de olhares que estavam no aqui e no agora?
Saudades dos tempos que eu poderia ser o instante, sem olhar a hora.
Em telas brilhosas nas mãos com dedos deslizantes.
Vejo as pessoas deixando passar com o outro aqueles instantes.
Não somos mais, ou na grande maioria, não vivemos mais aquela comunhão.
Para dizer que viveu, a "self" é a primeira palavra, antes mesmo dos “oi” e “então!”.
Saudades tenho de não viver em meio ao mundo corriqueiro e angustiado.
Era só sentar, conversar, colocar em dias aquele papo.
Voltar para casa por ter verdadeiramente vivenciado cada momento e instante.
Hoje tudo é concorrência e a felicidade do outro torna motivo de ser ignorante.
Tudo é apelativo, não há mais senso de humor.
Raros são os momentos e as pessoas que nos desconectam desse mundo de dor.
Então, só me resta seguir com as mãos no bolso e blusão de gorro fechado.
Deixando o ar dos pulmões neblinar minha mente nos dias de intenso frio pesado ....