OS SÓIS QUE ALMEJO

OS SÓIS QUE ALMEJO

Não sei se verei os sóis que almejo,
Sobre o seio da terra que reclama,
Pois terei que enfrentar cada bocejo,
Mesmo quando a morte me chama.

Caminhar pelos ciclos de translações,
São árduos influxos sem ter retorno,
Mesmo quando divago pelas estações,
Num rodamoinho de vento no morro.

Mas não posso ver mais multidões,
Pois sou fraco e estou quase morto,
Mesmo em sonho pelos quarteirões,
A buscar liberdade ou conforto.

Hoje eu sei só viver tão distante,
Por não ver o futuro em desertos,
Se meu éden foi em instantes,
Pois vivi por passados incertos.

Meu oásis já não colhe tâmaras,
Pois não tive tempo de plantá-las,
E meu corpo jaz só numa câmara,
Da pirâmide de ocultas mandalas.

Sou segredo pois ninguém me olha,
Pois o oculto não vem passear,
Quando a falta da luz nos controla,
E no vácuo foram nos jogar.

Eu pensei em trabalho e propostas,
Mas o tempo não mostra os portais,
E assim sou levado em apostas,
No cassino dos homens chacais.

Só então eu percebo as escaras,
Do sofrer no leito de hospitais,
Mesmo em busca do colo das fadas,
Ou no réquiem dos meus recitais.