O ELUCUBRAR DOS MEUS SONHOS EU TRANSCREVO NA ROCHA

O ELUCUBRAR DOS MEUS SONHOS EU TRANSCREVO NA ROCHA

Eu andei muito além do caminho,
E nem mesmo ainda sabia,
Pois não via nenhum pergaminho,
Que pudesse servir-me de guia.

Mas a vida nos mostra janelas,
Em que fitamos o louco na praça,
Todo torpe de muita cachaça,
Que sorvia sem olhar as panelas.

E os sonhos que tinha no início,
Nem me lembro ao olhar pro passado,
Pois lá vejo só mesmo um hospício,
Como vício de um trago ou engasgo.

Mas os sonhos só vem pro real,
Se eu sento na praça sozinho,
Mesmo turva, minha mente animal,
Se debocha do escárnio do vinho.

Era um sonho que tive no alto,
Que o asfalto me mostrou ser um pai,
Mas não sei se Inácio é seu nome,
Pois caí na beira de um cais.

Nesse cais eu não vi a Chapada,
Mas por Andaraí vi Lençóis pelo chão,
Que me mostram os sonhos guardados,
Como o frio não está num colchão.

Eu dormi com meus sonhos guardados,
Pois nem lembro mais deles agora,
Pois os dias parecem contados,
Pra quem sonha bem mais que Pandora.

E foi de tanto sonhar bem ao vento,
Tendo a vontade de mudar o mundo,
Que hoje me sinto imundo,
Apedrejado que fui, cão sarnento.

Mas é triste ser posto de lado,
Por ser fardo pra quem nos vampira,
Numa pira em que arde os sonhos,
Que tivemos por ser caipira.

E um caipira ou matuto sofrido,
Só se mostra se for pro escárnio,
Dos poderes que vêm lá de baixo,
Pois nefasto é o arder do inferno.

Agora eu guardo meu caderno na rocha,
Onde elucubro meu sonho bendito,
E transcrevo-o todos os dias,
Até quando chegar minha hora.


Publicada no Facebook em 21/09/2019