Humildade e empatia
Eu estava na calçada
fazendo a limpeza diária
quando um vizinho e sua mulher
que por ali estavam a passar
resolveu dar um tempo
e comigo conversar:
"Parabéns!..." - disse ele
e antes que dissesse o resto
fiquei a me perguntar...
do que este homem está falando?
meu aniversário é semana que vem,
seria disso que ele está a falar?
Mas, não era...
"...se todos fizessem como você,
a cidade seria uma beleza!"
Entendi, então, a que ele se referia.
Minha missão diária,
embora alguns me achem meio doido,
é manter a rua limpa e até o quarteirão.
A marginal do Paraitinga
e a sua calçada padrão.
Às vezes durante o dia,
à noite, de madrugada,
sempre que estiver àtoa
e com a devida disposição.
"Faço apenas a minha parte..."
Foi o que lhe respondi.
"Não, você faz a sua e a de todos.
Eu mesmo só fico olhando
o que você faz todos os dias.
Só não lhe ajudo porque tenho vergonha.
E às vezes, quando penso nisso,
fico com vergonha de mim...
devia ser como você!
Não ter vergonha do que faz..."
Só consegui responder:
"Cada coisa a seu tempo.
A primeira tarefa que Ghandi dava
aos que vinham de longe
com intenção de segui-lo
era limpar as latrinas
para aprender a humildade.
A maioria desistia logo
e voltava à sua cidade..."
Três dias depois ele,
o vizinho que conversou,
foi para outra dimensão.
E nós, vizinhos de rua,
nunca havíamos conversado;
apesar da proximidade física
estávamos sempre afastados,
ocupados em nossa distração.
Não por opção nossa,
mas por simples comodismo.
O que nos aproximou
foi o meu comportamento
e o seu olhar diferenciado.
Ele foi pra longe, muito longe,
mas não sem antes deixar
para sempre o seu recado:
"Diga hoje o que pensa
a quem está ao seu lado,
amanhã poderá ser tarde,
o momento terá passado!"
Gostei da sua atitude,
aprendi algo com ele
e vou tentar praticar.
Os de longe não tem jeito
mas os próximos...
preciso ao menos visitar.
Ou, de vez quando,
deixar de lado minha pressa,
parar na rua e conversar...