Vida e Treva
Não há treva que destrua uma alma,
Não há alma que não convalesça em sua treva;
Estrada sem fundo, corpo, linhas da palma;
Poço sem fim que se fecha - a vida prospera!
No temor de uma ponte balançada,
Na cegueira a visão de uma usura,
Não há tempo por cobiça acelerada,
Mas há medo e delírio por ternura!
Neste mundo tão falante e tão mudo,
No caminho tão vazio e tão cheio
Não há hora que não brote e arranque tudo,
Mas há tudo que afaste o devaneio!
Não há treva que destrua uma face,
Não há face que não escureça em sua treva;
E por dentro destes olhos, cores inconstantes;
Flor da quimera - a vida prospera!
Mesmo tudo o que é profundo é momento,
Onde tudo o que é momento é passageiro;
Não há treva que não fortaleça o passo,
Mas há passo que pisado é receio!
Se o tato deste mundo é alucinante,
Se o clima deste tato é uma guerra,
Não há terra para superar o pranto,
Mas há treva nesta vida que prospera!