No Egito, onde vivi por um pouco mais de dois anos, chove mais ou menos uma ou duas vezes por ano. Não o que conhecemos por chuva - mais para o que é descrito na Bíblia durante as pragas do Egito: o que cai é um chuvaréu, com granizo, com pingos enormes, uma chuva realmente forte. E daí de repente ela se vai...

No dia seguinte, todo o Sahara se transforma em uma enorme campina. Em um tempo recorde, flores de todas as cores brotam, e, por alguns maravilhosos dias, faz-se feriado nacional, e todo mundo vai para o deserto, para ver o milagre do FLORESCER. Fecham-se as escolas, as repartições públicas, o comércio.

Depois tudo se esvai, e o deserto outra vez volta a ser deserto.

Para mim, experimentar o florescer do deserto foi uma das experiências mais sublimes que já tive, e a maior prova de que não existe deserto verdadeiro, a não ser no coração dos homens.


Florescer

(do livro "Nos Jardins Sagrados",
Canto I - "No Jardim dos Sonhos")



© Dalva Agne Lynch


O deserto é solo fértil
prenhe de sementes.

Sob a areia escaldante e vazia
há bosques e várzeas e campinas
adormecidas
esperando apenas a chuva
irrompendo das nuvens escuras
para florescer.

No cerne do deserto do ser-se
o amor também assim se esconde
em silêncio
esperando apenas as lágrimas
irrompendo da noite escura
para florescer.



fig: animação da autora, dezembro 2009
Dalva Agne Lynch
Enviado por Dalva Agne Lynch em 11/05/2007
Reeditado em 26/04/2010
Código do texto: T483231
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