O Egoísta
O trem não chega a nenhuma estação faz tempo.
Pelas janelas a cidade sucede como imagens em cromaqui.
Em qual viagem embarcou aquele homem distante?
Seu olhar fixo não tem foco.
Seu caminho é interior,
tão longo quanto os trilhos que o leva embora.
Imerso em um tempo além do toque, da chuva fria constante, das moças curiosas.
Eis ali um revolucionário.
Ele se permite abster em meio à turba que segue e se acotovela com guizos de esperteza.
Tudo importa para ele, não se engane.
Ele apenas acumula no diafragma o grito que calará o barulho da gentalha.
Em sua tônica há potência para descarrilhar o comboio que fura a cidade apressada.
Na arquitetura de seu pensamento se implodirá o concreto emoldurado que sufoca as moradas recicláveis.
Num repente esse homem desperta para a cinza que o rodeia.
Espalhando a fumaça enxerga outros poucos absortos.
Não entende, mas vê luz.
Torce, antes da última estação, para que sua eternidade e a dos outros não seja relativa.
Ao sair sua expressão é um sorriso.
Não olha pra trás quando sobe a escada comum.
Deixa que todos se empurrem para,
folgadamente,
desfrutarem os serviços da escada rolante.