Sobre a arte irritante e entediante de esperar
Esperar, esperar, esperar...
Quem, neste planeta cheio de jaulas e salas de espera,
Gosta de esperar?
Tenho passado, desde que o cronômetro me foi ligado,
Um tempo bem maior que o necessário
Esperando.
Esperando, esperando, esperando...
Esperando pela felicidade almejada,
Esperando pelo conforto merecido,
Esperando pela compreensão da amada,
Esperando pelo futuro colorido.
Esperando pelo esforço recompensado,
Esperando pela solidão preenchida,
Esperando pelo amor idealizado,
Esperando pela saudade interrompida.
Esperando pelo orgasmo multiplicado,
Esperando pelo frio aquecido,
Esperando pelo calor amenizado,
Esperando pelo olhar agradecido.
Esperando pelo conselho sensato,
Esperando pelo juramento cumprido,
Esperando pelo ideal alcançado,
Esperando pelo pensamento positivo.
Esperando pelo sorriso sincero,
Esperando pelo julgamento justo,
Esperando pelo momento eterno,
Esperando pela derrota dos brutos.
Esperando pela conquista do ritmo,
Esperando pelo diálogo necessário,
Esperando pelo verdadeiro amigo,
Esperando pelo retorno ao berçário.
Esperando pelo emprego macio,
Esperando pelo poema completo,
Esperando pelo verso arredio,
Esperando pela curva do reto.
Esperando, esperando, esperando...
Esperando em filas de bancos,
Esperando em filas de supermercados,
Esperando em filas de hospitais,
Esperando em filas de açougues,
Esperando em filas de dentistas,
Esperando em filas de desempregados,
Esperando em filas de fornecedores,
Esperando em filas de rodoviárias,
Esperando em filas de salvações
Esperando em filas de restaurantes,
Esperando em filas de banheiros
E em filas de filas de outras filas de filas.
Esperando, esperando, esperando...
Esperando pelo silêncio sábio,
Esperando pela melodia perfeita,
Esperando pela eternidade do mágico,
Esperando pela exclusão da doença.
Esperando pela canonização do honesto,
Esperando pela realização da utopia,
Esperando pela incorporação dos restos,
Esperando pela voz e a vez das minorias.
Esperando pelo futuro da juventude,
Esperando pela velhice dignificada,
Esperando pelas boas atitudes,
Esperando pela ganância estraçalhada.
Esperando pelos mesmos sonhos antigos,
Só que agora com uma maior esperança,
Esperando, sem todo aquele velho cinismo,
No entanto, ainda com a mesma desconfiança.
Esperando, esperando, esperando...
Como abandonar a escravidão
Daquilo, que mesmo sabendo
Ser só um propulsor de insatisfação,
Não nos é possível eliminá-lo?
Como rejeitar essa praga,
Que dia a dia nos conduz com o vento
Á indefinições sempre mais amargas,
Nos fazendo viver em intervalos?
19/03/2012