O que é um poeta
O que difere um simples humano de um poeta?
O sentimento lúgubre, o olhar no crepúsculo, a emoção em sua pele?
Não.
Um poeta não vê apenas a água caindo, mas a chuva refrescando a terra, florescendo as flores, alimentando a alma. E, no seu barulho, não o incômodo, mas a tranquilidade, a paz e a harmonia.
Não olha para a fonte e enxerga apenas as gotas, mas cada balanço que fazem nas águas, a sua energia que dissipa o que é inerte, o movimento que tira a inércia.
Não vê um amor, não apenas o toca, apenas o sente, mas o transfigura do que é real, tornando-o, às vezes, idealizado. Não para mudá-lo, mas eternizá-lo. O torna perene, que não cai como as folhas no outono, mas que se renova em cada primavera. Que é queimor em seus verões, e que se aquece no frio inverno. Faz do amor mais que dor, um ardor. Mas que arde em paixão, derrete e torna em lágrimas a rocha que o dia insiste em não ser sentida, e que faz da noite eterna morada...
A noite... não apenas a tem como o fim de um ciclo, mas o começo, onde cada ação que ocorreu seja repensada, que cada ato analisado, os erros, corrigidos, os acertos, enaltecidos. Tem a noite como parceira, pois com o silêncio vem a reflexão. Do que é agito faz-se a calma. E da pressa o recomeço...
O poeta tem o dia como ação, e a noite, emoção. Se o sol traz a luz, a lua a reluz. O azul a claridade, a penumbra as estrelas. E com as estrelas, a inspiração.
Não vê na roseira apenas a cor, mas todo seu amor. Em cada rosa, uma doçura, e em cada pétala a doce ternura. Quando um poeta toma em suas mãos um buquê de flores, não o espera murchar, mas apressa-se em eternizá-lo, em prosa e em versos, o torna imortal..
Uma mulher... o poeta não a tem apenas na carne, embora sua beleza dela faça parte, mas essa mesma beleza é encontrada em sua meiguice, no seu olhar, em cada sorriso, no seu andar... no seu falar, no seu vestir... no seu chorar, e até no seu respirar... nela um poeta não vê a dor, mas o amor. Não o que é vão, mas a paixão. Nem o que separa, mas só o que une.
Faz dela o amor, de seu beijo um poema, de teu cheiro seu aroma, do calor o seu sussurro...
Faz das palavras, mágica. Porque deixam de ser um conjunto de letras para se tornarem sua obra de arte. É um escultor que lapida o papel, um pintor que nas telas estampa frases, um cantor que, em silêncio, fala suas trovas, um artista, onde seu palco é sua vida, e sua arte, seu poema!
Faz do choro o riso, e da dor o sorriso; do sofrimento, sua fuga; no seu fugir, seu encontrar.
Este é o poeta. Por isso somos poetas, este é o nosso algo em comum. Eternizamos os sentimentos, serenizamos a realidade, despimo-nos do que somos. Sem pudor. Sem dor. Ou rancor. Mas, acima de tudo, amamos o que é belo, escrevemos o que é valioso. Porque esta é a vida!
Mas o poeta é também um humano, porém em toda sua complexidade. Pois transcende seus pensamentos naquilo que é puro, meigo, doce, ilusório. Um ser que, mutável, transforma a realidade, não apenas a descreve.
Uma pessoa comum, mas que rebusca o comum, fazendo-o diferente, tornando-o profundo. Que toca a alma, não só a matéria. Incendeia o coração, não apenas o sente bater. E inunda de esperança a vida, que com a poesia se torna sensível. O suficiente para amolecer esta rocha fria, a pedra de nossa razão...