Divinação
Quisera fazer um poema transcendental
Que extrapolasse as eras e as notícias de jornal
Mas transcendesse em quê?
O Deus do deserto, dos pastores e dos infernos
Está morto e antes como agora é feito humano
Seja ele judeu, cristão ou muçulmano.
Os cristãos tentam ressuscitar Deus novamente
Mas o Deus ressuscitado é sujeito tolo e demente
Para o qual suam na aeróbica do senhor
E loteiam o paraíso como se fosse um penhor
O que vale esse Deus além dos demônios que lhe convêm?
Por sua vez menos assustadores que a fome africana
Ou que os horrores que as guerras contêm.
Afinal, em que inferno, em que abismo
Há mais destruição do que no capitalismo?
Viva o Deus que aflora no seu interior
No inconsciente, na alma, ou seja lá o que for
Vivifique esse Deus que fala pela tua boca
Mas que não diz nada se a cabeça está oca.
Esse Deus tem poder sem custar um tostão
Basta ter sentimento além de razão.