Sinto-me tão só!

Oh, como posso ter tal sentimento se não me encontro assim...

Se Deus me consola, se os meus me rodeiam, e estão aqui?

Será que porque estão tristes também

Em sua individualidade intocada?

Hoje não quero fazer um soneto,

Quero deixar minha alma fluir no meu leito

E chorar o meu pranto, no meu canto,

E, só, vivificar a esperança que morre a cada dia

De dias de paz, dias de alegria, momentos de felicidade.

Sinto-me só. Na escrivaninha da vida, em frente à tela em branco.

Minha vida está em branco.

Não deixo de viver, de lutar, de tentar

Mas deixo meu sofrer, lamentar, meu chorar

Porque o dia é longo, mas curta a existência.

Vejo seres nascendo, outros morrendo, tantos perecendo,

Sento na cadeira e escrevo algumas palavras

E o que escrevo são lamentos, tristeza e dor

Mas também esperança, prazer e amor.

Mas me queixo em meus ais, e sofro no cais

Da vida, como um barco à deriva,

Na tempestade da vida onde eu mesmo entrei

E onde outros também entraram, não posso afundar

No mar solidão, desilusão, dissabor

Porque a vida insiste em pulsar, enquanto durar

E se o nosso sofrer insistir em continuar

Eu, na minha solidão, continuo a remar

Contra a maré, lutando a viver

Brigando com a tolice do mundo ao redor,

Nas incoerências de almas indiferentes.

Sinto-me tão só...

Sei minha mãe virá me abraçar

Meu irmão tentará me alegrar

Minha família, a crescer e a lutar

Mas, só, sei que vou morrer

Pois se morre um pouco a cada dia

Quando a vida se esvai ‘quanto noite

E, durante o dia as lágrimas escorrem

E, esperando alguém enxugar

Decepções vêm, tomam seu lugar.

E assim vou vivendo tão só.

Pois assim cheguei, afinal,

E, só, hei de partir,

Mesmo que se acolham a mim,

Numa oração no jazigo final.