Vontade de seguir
A vida me chama para ver o sol.
Tenho quase vontade de sair,
De ouvir os pássaros e sentir o ar.
Esta quase ansiedade de escutar as águas
Quietas nos lagos distantes,
O vento brincando por entre as árvores.
Uma hora dessas faço as malas e começo
A caminhar, poderia partir agora,
Todavia é preciso ouvir os homens
Para não lhes sentir muitas saudades.
Estou mais e mais compelido a subir montanhas,
Quero, sobre os montes, que minha fogueira,
Durante a noite, seja um sinal de vida humana.
O por do sol é um em cada lugar do mundo,
Andando sei que muitos me permitirão
Vê-los e, neste momento sentirei nostalgia,
Porém de barbas e cabelos crescidos,
Não saberei de quê.
À noite me trará frio e silêncio e,
Cada vez mais ermo,
Sentirei cada vez mais falta,
No entanto, também não saberei de quê.
Ao amanhecer, terei que me adaptar ao calor.
Quando já estava acostumado com o frio,
Sentirei fome e, porque é manhã,
O vento me trará cheiro de café.
Entrarei na floresta,
Lavarei o rosto num córrego alegre
E depois, com os olhos já totalmente acostumados,
Fitarei minha face e não me reconhecerei.
Tentarei buscar a antiga imagem, entretanto,
O tempo a terá dissolvido nos confins da memória.
Neste momento, sentirei um aperto no coração,
E verei como estou sozinho.
A reflexão me será roubada pela fome.
Subirei rente ao córrego e me alimentarei de
Flores e frutas silvestres.
O sol dirá à hora que voltarei a caminhar.
Seguirei caminhando, o pensamento á frente,
Fará os olhos buscarem os horizontes.
A margem da estrada, de vez em quando,
Placas me farão lembrar de casa
E pensar no quanto ela esta distante.
A infância, os amigos, os amores, tudo ficou para trás.
Perguntarei: o que estou fazendo?
E seguirei pensando, caminhando, caminhando, caminhando...
Nem mesmo perceberei em que
Lugar da estrada serão diluídas minhas duvidas.
Quando me cansar, a floresta estará perto,
Lá não chega o terror das recordações
Trazidas pelas placas.
À noite farei uma cama de folhas num
Lugar protegido e dormirei ouvindo, ao longe,
O barulho dos macacos.
A escuridão me fará duvidar se estou
Dormindo ou não, no entanto, um brilho
Azul me dará uma certeza.
Essa estrela me trará lembranças remotas,
Despertará em mim o romântico que fui outrora,
Quando jovem.
E ali morrerei por alguns instantes.
Será muito difícil suportar o frio da madrugada,
Provavelmente, não dormirei por que o coração
Baterá de maneira incômoda.
Em algum momento, antes do amanhecer,
O mar dos olhos refletirá não só a estrela primeira,
Mas o brilho de todas elas.
O sol é um grande e áspero lenço.
No outro dia, recomposto,
Sorrirei com o beijar do colibri.
E, pela floresta ainda úmida,
Continuarei caminhando até que
A vontade de voltar seja maior que a de seguir.