DIZEM QUE MINTO

Tudo que vejo ou sinto,

fora da imaginação,

é tudo quanto minto –

eis a douta emoção.

Não minto, quanto penso.

A Razão, está certa

ou errada – é como lenço,

vai no vento, que a cerca.

Como tudo que escrevo,

antes de mais o medito,

não vá ao que devo,

não ser no outro, o que incito.

E no limiar da incerteza,

àqueles que me hão-de ler,

ser rei, sem realeza –

que mais vale ter, do que parecer.

Se ouvisse a voz do coração,

ao pensamento o algoz,

não haveria verso nem canção,

que ele se ilude, com tanta voz.

Assim, o que narro, a descrever,

é um som de mar, à praia dada –

é porque é, e se quer crer,

águas indómitas, onde já não há nada.

Isto é bonito e de realçar,

porque nasceu de minha imaginação.

Entanto ficou-me nas mãos, o sal do mar,

e um pensamento de haver continuação.

E vou por aí, alcançando sonhos,

quando a tarde é de um louro macilento –

flores silvestres, medronhos;

que melhor que isto, como argumento?

Jorge Humberto

11/01/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 11/01/2011
Código do texto: T2722683
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