Quatro horas e tudo bem
Agora, às quatro horas
Quatro mundos me separam
Da frieza da aurora
Do destino a me torturar
Sem drogas, sem beber
Sem cigarro nem remédio
Sem depressão nem tédio
Só saudade de você.
Quatro horas no tempo molhadas
Vão passando num corre-corre
No tempo, o relógio morre
As horas secando apressadas
Sinto o passo de cada segundo
Mais rápido que o meu destino
Que as batidas do meu coração
São minutos em desatino
Quero substâncias boas
Que meu próprio organismo produz
Quero consumi-las todas
Quero enxergar sua luz
Quero poder de sair do escuro
De perder meu medo de apostar
Quero sair do meu mundo inseguro
Quero fazer a máquina funcionar
Querendo morreu um burro
Morro querendo também
Pois se meu grito é sussuro
Eu grito o grito de quem?
Onde está o maldito botão
Que inicia todo o processo
De fazer o que se quer
De acabar com esse recesso?
Sempre soube que precisava
De pouco pra ser feliz
Mas não sabia que se cobrava
Os olhos da cara e o nariz.
Preciso esperar tanto?
Preciso contar com a sorte?
De que é feita a gente que faz?
Onde se ensina a correr atrás?
Qual faculdade que ensina
A sobreviver no Brasil?
Alguma na conchinchina?
Ou na puta-que pariu?