O Que Por Mim Passou
Quando passo em revista minhas recordações
E me detenho, ora saudoso, ora tristonho
Diante de certas cenas, casos e sensações
Me vejo assim, num ambiente como de sonho...
Observo detida e minuciosamente, cada pedaço
Como cacos, caídos no chão da minha memória
Uns me oferecendo, outros negando um abraço
Na triste comédia que formou a minha história
Às vezes, sinto a pequena chama de um velho amor
Uma ou outra vez, de uma velha raiva, a pontada fria
Certos momentos enlouquecidos, de prazer-e-dor
Ou o sorriso que volta ao lembrar uma antiga alegria
O que se foi, como alguém que caminha na areia da praia
Passou por mim, por meu território, em sua caminhada
Independente se fui merecedor de aplauso ou vaia,
Fiquei com a areia, hoje vazia, mas ficaram pegadas
E como o velho índio, experiente leitor de trilhas
Volta e meia a contemplar as marcas do que passou
O que se foi, e o que vem, se andarão muitas milhas
Nos amplos domínios que essa minh’alma conquistou
E as memórias, umas fracas, outras fortes
Vem como as folhas, nos braços do vento
São testemunhas da vida e da morte
São o combustível do meu sentimento.